quarta-feira, 12 de maio de 2010


...Depois de 6 meses, as tão sonhadas: FÉRIAS!!!

Cá estamos nós outra vez: depois de 6 meses em um navio, 2 horas de ônibus de Santos a São Paulo - Guarulhos, e mais 2h30 de voo de lá a Brasília...finalmente chego em casa!!!!

Que saudade de tudo e de todos! Saudades da minha mãe, a primeira a me ver e a me buscar no aeroporto. Quanto chororo!!! Depois disso, eu imediatamente me dei conta do tempo que fiquei longe de casa: 6 meses! Engraçado, pareceu passar tão rápido!!! Enquanto estava no navio, as horas passavam tão depressa que mal me dava conta da existência do tic tac do relógio.

Pelo balanço geral, ficam apenas as lembranças positivas. E é assim que tem que ser, afinal as negativas... bem, contribuem sim para o aprendizado do ser humano, mas devem ficar numa lembrança vaga de que um dia eu sofri bastante. E quem é que quer lembrar das coisas ruins? Eu quero é esquecer!!! Tira-se o aprendizado, só para não ter que passar por determinadas situações de novo e o resto a gente joga fora, bem no fundo do mar!

E quantas desilusões tive nessa experiência, hein? Amor antigo que se deteriorou. Amor novo que não ficou! Trabalho árduo e cheio de regras e detalhes aparentemente inúteis, mas que ao mesmo tempo essenciais para a sobrevivência de uma tripulante em alto mar. Tamanhas foram as confusões que aprontei...e como aprontei! No começo, sofria com a troca de fuso horário. Incontáveis foram as vezes que meus colegas de trabalho me ligaram em minha cabine para dizer que estava atrasada. Outras tantas que ouvi de minha chefe que eu era nova e que eu aprenderia a não tentar mudar as regras tão antigas da companhia, mas sim apenas obedecê-las.

Mas de tudo que passei, saquei proveito para aprender. Descobri que meu relacionamento de tantos anos já não era o mesmo. Descobri que eu já não era a mesma. Que meus objetivos de vida eram outros, que minha essência era outra, uma mulher mais calma, mais madura, mais humilde. E como uma viagem muda a gente! Não pelo fato de conhecer outras paisagens e desfrutar de lugares exóticos e comidas maravilhosas, mas de aprender com a cultura de cada lugar e, no meu caso, com a de cada um que viveu naquele barco junto comigo. Com o filipino de todas as semanas, ao meu lado, no exercício de abandono (mais conhecido como General Drill), respondendo a todas as perguntas sem exitar, sem errar. Do indiano que me ensinou um pouco de sua filosofia de vida e sobre o respeito de seu povo as suas mulheres. De outro que me fez ver quão graciosa é sua dança e suas melodias. Que me ensinou a sentir a paz ao ouvi-las. E a respeitá-los. Estou falando também da dança de amigos búlgaros que muitas vezes presenciei, sem necessidade de festa e até, às vezes, sem necessidade de música. O puro e simples dançar. A cultura mostrada ali: ao vivo, simples e linda! De amigas mexicanas, paulistanas, colombianas, guatemaltecas, enfim, de cada uma que só acrescentou um pouquinho de “ponto de vista” e das quais vou lembrar com muito carinho!

Falo também dos romenos, os quais tive o prazer (e algumas vezes, o desprazer) de conviver com mais proximidade. Com os quais fiz verdadeiras amizades, algumas para a vida toda. Com os quais aprendi um pouco o idioma,  a personalidade e a analisar sua cultura e seu papel na sociedade e no navio. São pessoas responsáveis que, quando se propõem a fazer algo, o fazem com esmero. O fazem bem. Só depois fui entender por quê há tantos nos navios. E por que a maioria deles vêm de Constanta. O país é pequeno, muito menor do que a cidade de São Paulo. As cidades principais são Bucurest, sua capital, e Constanta, cidade situada a cerca de 4 horas de distância e pela qual chegam todas as mercadorias vindas dos outros países, a cidade mais próxima que possui porto marítimo. É por isso que a maioria vem de lá: cidade portuária onde se  sobrevive ou da pesca ou  do trabalho em navios de cruzeiro. A maioria jovem já escolhe essa segunda opção, pois “quem é o louco de querer passar cerca de 8 meses em alto mar cercado de homens velhos?”. É assim que eles descrevem.

São homens como diz minha amiga mexicana a qual talvez eu nunca volte a ver, já que voltou para o México e não pretende mais voltar para essa vida, “son hombres super raros y, algunas veces, unas mierdas de personas”. É isso mesmo. São homens frios. São pessoas de difícil acesso no começo (e como sei disso! Passei os primeiros 2 meses tentando ser amiga deles e só no terceiro me deixaram entrar para a “seita secreta”rsrs), mas viram pessoas encantadoras e que têm muito a ensinar. Com eles aprendi um pouco da língua, dança e costume. Percebi também o quanto são inteligentes. Principalmente em se tratando do aprendizado de outros idiomas. Possuem uma inacreditável habilidade com isso!(conheci um que aprendeu espanhol só de ouvir em menos de 3 semanas!).


Enfim, posso dizer que aprendi muito, mais uma vez. Passei por muitos lugares, fiz muitas compras ( e como fiz! Se meu cartão acumulasse milhas, coisa que já estou providenciando, provavelmente já daria uma passagem de ida e volta para o Japão,heheheeh), conheci muitas pessoas, fiz muitas amizades, sofri muito, chorei muito, mas também dei muita gargalhada até doer o maxilar...e fui tão feliz que o meu corpo transparecia isso para qualquer um que se aproximasse de mim. Foi um aprendizado incrível que, se Deus quiser, irá se repetir nesse mês que se segue. Desta vez, com o objetivo de economizar!!! E de aprender, sempre!!!

Até a próxima!!!

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